Se tudo der certo com as vacinas já compradas pelo Brasil, vai necessário pelo menos dez meses para vacinar 75% da população brasileira contra a Covid-19. Ou seja, só em outubro três a cada quatro estarão vacinados. A estimativa foi feita pela consultoria científica britânica Airfinity a pedido da CNN Brasil. O prognóstico leva em conta contratos de compra já assinados e a capacidade de entrega dos laboratórios. Há, porém, muitas incertezas, como possíveis atrasos na chegada das doses e a participação do Brasil no consórcio Covax Facility.
A estimativa feita pelos cientistas britânicos é que, com a aprovação emergencial dos imunizantes pela Anvisa, o Brasil poderá ter 20% da população vacinada no fim de abril. Ou seja, cerca de 42 milhões vacinados nos próximos 100 dias. Para isso, será preciso imunizar mais de 400 mil pessoas por dia, inclusive sábados, domingos e feriados.
Após essa etapa inicial, o ritmo de vacinação ganha mais velocidade com as doses produzidas no Brasil e 75% da população poderá ser alcançada no fim de outubro. Para atingir essa meta, será preciso vacinar mais de 650 mil pessoas por dia nos seis meses seguintes, entre maio e outubro. Assim, 157 milhões estarão vacinados em dez meses.
“No geral, as perspectivas para o Brasil são melhores que vários outros países emergentes, mas há consideráveis incertezas”, diz o especialista em dados científicos e fundador da consultoria, Rasmus Bech Hansen. Entre as incertezas, ele destaca a capacidade de produção e entrega dos laboratórios contratados e incertezas sobre como o Brasil terá acesso às 42,5 milhões de doses previstas no consórcio Covax Facility.
Hansen também lembra que, mesmo com as doses no país, podem acontecer problemas no processo de vacinação. “É onde os Estados Unidos estão lutando atualmente”. Outro ponto de atenção é a eficácia dos imunizantes adquiridos. “Esse prognóstico mostra o número de pessoas vacinadas com as duas doses, mas as vacinas não têm eficácia de 100%. Portanto, 75% da população vacinada não quer dizer 75% da população protegida”.
Interrupções no caminho
Como o planeta inteiro quer os imunizantes e a capacidade de produção é limitada, Hansen diz que, mesmo com o processo iniciado, é possível ter interrupções temporárias no processo de vacinação. Ele dá como exemplo Israel, onde a vacinação começou rapidamente e mais de 20% da população já foi alcançada. “Começaram muito rápido, mas o estoque inicial das vacinas Pfizer está chegando perto do fim e não há detalhes sobre quando será a próxima entrega. Isso poderá demorar porque há muitos outros países à frente”, diz. Esse problema pode acontecer com todos os outros países, inclusive o Brasil.
Dados do Centro de Inovação em Saúde da Universidade de Duke mostram que o Brasil assinou, até agora, contratos para a compra de 252 milhões de doses, sendo 102 milhões da AstraZeneca, 100 milhões da Coronavac e outros 50 milhões da Sputnik V. O governo federal lidera o esforço com a vacina da AstraZeneca/Oxford, o governo de São Paulo e o Instituto Butantan coordenam a Coronavac e o governo da Bahia assinou acordo para aquisição da Sputnik V. Os dados são diferentes dos apresentados pelo Ministério da Saúde porque levam em conta apenas contratos firmes – e não incluem intenções de compra.
Apesar de dificuldades, Hansen reconhece a vantagem do Brasil de ter grandes laboratórios nacionais. Instituto Butantã e a Fiocruz têm capacidade de produção individual próxima de um milhão de doses por dia. Ao contrário do Brasil, a maioria dos emergentes depende apenas do consórcio internacional Covax.
Por causa disso, o processo será mais lento nesses países. O conjunto da América Latina, por exemplo, só deve chegar à marca de 75% da população vacinada no fim de março de 2022, prevê a Airfinity. O Brasil pode até ser mais ágil que alguns vizinhos, mas será mais lento que a maioria dos países ricos. No Canadá, 75% da população será vacinada até junho. Nos EUA e União Europeia, a marca poderá ser atingida em agosto, prevê a Airfinity.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, avalia que as previsões da consultoria são possíveis de serem alcançadas, mas diz que esse seria “o melhor cenário” para o Brasil. “É pouco provável que o país conseguirá cumprir à risca e imaginar um processo sem problemas”, diz, ao mencionar riscos adicionais, como um evento adverso no processo que poderia gerar suspensão do uso emergencial.
O Ministério da Saúde foi procurado para comentar o calendário previsto, mas não respondeu aos pedidos da coluna até a publicação do texto.
Fonte:CNN Brasil