Chamada de Atrofia Social, muitos desejos para 2022 mostram que as pessoas estão com receio de voltar “à vida comum” e socializar. A psicóloga Deise Moraes Saluti comenta sobre o assunto
O novo ano já chegou e com ele as promessas características.
Entretanto, diferentemente de anos atrás, em que “fazer uma faculdade ou especialização”, “casar”, “fazer a viagem dos sonhos” ou “pular de bungee jump”, as metas para 2022 aparecem mais tranquilas.
Aliás, “fazer um check-up”, “guardar dinheiro” ou “liquidar as dívidas”, monetizar pela internet e emagrecer são alguns desses pedidos, visivelmente encarados como solitários.
Conversamos com a psicóloga Deise Moraes Saluti, da DMS Psicologia, para sabermos mais sobre como a atrofia social, um termo tão atual, e como essa situação pode ser driblada.
Confira!
Com a chegada de um novo ano, muitos planos são feitos. Mas para 2022 foram reveladas muitas metas “solitárias”, como emagrecer e guardar dinheiro, longe de outras costumeiras, como se casar ou fazer a viagem dos sonhos. Por quanto tempo deve durar essa atrofia social?
Deise Moraes Saluti – Quem nunca prometeu iniciar novos planos durante a chegada de um novo ano?
Todos fazemos diversos planejamentos e, infelizmente, não concluímos por várias circunstâncias, como financeiro, falta de planejamento, disponibilidade, imprevistos e outros.
Mas, sim, todos sonhamos com melhores oportunidades a cada ano. Manter um planejamento requer, além de elaboração, uma disposição e muitos não aceitam renunciar a uma zona de conforto para iniciar algo novo por medo, insegurança ou não aceitar que para mudar seja necessário, primeiramente, modificar os pensamentos bloqueadores e trabalhar por um foco.
Isso porque muitos não aceitam ter que fazer esforço para atingir seus objetivos, acreditando que o mais confortável ou o mais fácil é o melhor. Se enganando, se autossabotando e impedindo, assim, qualquer crescimento pessoal.
Até que ponto a pandemia ainda faz esse temor prevalecer?
DMS – Hoje, uma das maiores inseguranças que tomam conta de nos paralisar em realizar um projeto pessoal é a grande realidade pandêmica atual que estamos vivendo.
Ela causa frustrações, medo, incertezas ou outras reações emocionais. Por isso, não podemos deixar o medo tomar conta de vivermos em sociedade, nos relacionar, praticar esporte, mas, a maior dúvida é: como fazer? Como realizar um encontro, um trabalho presencial após tanto tempo isolado, com medo de nos contaminarmos?
Estar com cuidados na saúde mental e emocional são primordiais para retomarmos nossas atividades de rotina e nossos relacionamentos.
Isso porque a Atrofia Social causa a paralisia de nossas ações com o resto do mundo.
Causa medo, angústia, tristeza, inseguranças, incertezas de um mundo melhor, sem contaminação por vírus ou qualquer tipo de doença. A adaptação se torna difícil para o que chamamos de “novo normal”, afinal, o que ficou passado e o que esperar do novo?
Para essas e outras questões precisamos buscar apoio terapêutico e evitar alguns transtornos, como T.O.C, (Transtorno Obsessivo Compulsivo), T.A.G (Transtorno de Ansiedade Generalizada), Depressão ou Insônia.
Mesmo com mudanças no estilo de trabalho – onde algumas empresas adotaram o sistema híbrido – alguns profissionais ainda podem ter problemas para se acostumar ao “antigo”, que é o presencial? Como lidar com isso?
DMS – Não é simples trabalhar home office e ter que fazer uma adaptação para tentar desenvolver um trabalho isolado, tendo um histórico tão importante de relacionamento interpessoal, de amizades, de divisão de tarefas ou até mesmo de comunicação dentro da empresa.
O tempo todo éramos avaliados por comportamentos dentro das instituições e de uma hora para outra nos vemos tendo que se adaptar a trabalhos dentro de nossas rotinas pessoais.
Para encontrar um equilíbrio, muitas empresas optaram por dividir o tempo híbrido e presencial. Mas, muitas pessoas sentem reais medos de contaminação, não aceitando retomar suas cadeiras nas empresas e controlar esse medo requer um esforço que muitos não sabem controlar.
As empresas necessitam estar preparadas para a volta do quadro de pessoal, com todas as medidas de proteção disponíveis e associar um acompanhamento psicológico dentro das empresas para o conforto e segurança dos seus colaboradores. E esses colaboradores precisam ter acesso a esses protocolos, se protegerem e poderem prevenir de contaminar seus familiares na volta para a casa.
Hoje a ansiedade acomete muitas pessoas. Você acredita que seja ainda com medo da pandemia ou uma sequela dela? Por quê?
DMS – Vivemos ansiosos por um cessar dessa pandemia, por um fim em doenças como a COVID1-9, H1N1 ou H3N2, que como a Influenza causa diversos prejuízos à nossa saúde, entre eles febre alta, mal-estar e dor de cabeça. Todos queremos estar imunizados e distantes de qualquer risco de contaminar ou ser contaminado.
Porém, como lidar com essa preocupação é o que nos diferencia no dia a dia. Vemos casos de isolamentos, casos de aglomerações e julgar quaisquer desses comportamentos pode ser injusto, pois cada pessoa conhece sua necessidade.
Por esses e vários outros motivos que devemos, individualmente, cuidarmos de nos manter protegidos e evitarmos qualquer risco que possamos apresentar a terceiros.
Casos graves de ansiedade geram conflitos dentro dos grupos, enquanto o medo constante da contaminação pode levar a um total isolamento, causando uma Depressão Grave e podendo levar a morte.
Se você conhece alguém que há muito tempo não se comunica com os amigos, mesmo que remotamente, que não visita amigos mesmo utilizando máscara e álcool gel, entre em contato, talvez ele esteja necessitando de uma ajuda profissional, um psicólogo ou psiquiatra, e esses profissionais hoje já podem prestar serviço por teleatendimento, facilitando o contato e as formas de ajuda para a pessoa em isolamento.
O importante é manter a calma, respirar fundo, se proteger o máximo possível e ir aos poucos se adaptando aos antigos costumes, sem correr qualquer risco de se contaminar ou ser responsável pela contaminação de qualquer pessoa.
A suspensão do “Passaporte da Vacina” também está causando muito medo em alunos universitários. Como isso pode se refletir academicamente e no futuro profissional como um todo?
DMS – Totalmente irresponsabilidade não exigir a apresentação da carteira de vacinação nos centros universitários.
Além de riscos graves de contaminação, os alunos não terão 100% de aproveitamento do conteúdo tendo em vista que não estarão protegidos para realizar as atividades dentro das salas de aula, nos grupos de estudos ou mesmo nos corredores das faculdades.
Existe a pessoa que não se importa com a contaminação e existe aquele que não permite se socializar ou participar de qualquer atividade com mais de uma pessoa justamente por não saber dos precedentes daquela pessoa, se há ou não uma preocupação em se proteger fora da instituição e preferindo, assim, se afastar ou se manter isolado.
Esses comportamentos causam queda no aprendizado e no rendimento desses alunos, diminuindo a qualidade das aulas ou trabalhos em grupo que qualquer instituição de ensino exige como, por exemplo, os estágios.
Por fim, quais sugestões você dá para que as pessoas comecem a se desvencilhar da atrofia social? E até que ponto, nesse momento histórico, a atrofia social é boa – quando falamos em termos de cuidados?
DMS – Precisamos continuar a viver nossas vidas e rotinas, nossos sonhos, nossos projetos engavetados desde o início da pandemia, precisamos dar seguimento à nossa vida.
Não podemos parar de sonhar com um futuro melhor, com melhores condições de vida, com grandes conquistas que deixamos para trás e agora precisamos de um impulso para retomarmos de onde paramos. Sem medos e sem nos procrastinar, devemos seguir todos os dias um passo por vez, um dia por vez, mas nunca parar.
Não podemos desenvolver transtornos por desejar nos proteger, mas devemos continuar nos protegendo. Nossos cuidados com a saúde física e mental são essenciais para garantir qualidade de vida e proporcionar momentos tão felizes como já havíamos vivido antes. Com tudo aprendemos que não existe o momento especial, todos os momentos são especiais. Devemos viver cada dia de nossas vidas com as pessoas que nosso coração escolher.
Valorizar um nascer e um pôr-do-sol, uma planta, uma árvore ou uma pintura. Guardar dinheiro é importante, mas também devemos proporcionar momentos felizes a nós mesmos e a todos que nos desejam o bem. Não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje e amar, amar nossa vida até o último instante que pudermos!
Deise Moraes Saluti é psicóloga (CRP 06/154356 ) especializada em crianças, adolescentes e adultos. Para saber mais, acesse @dmspsicologia.