Especialista em Gestão de Carreiras analisa os impactos econômicos, educacionais e profissionais na vida das pessoas entre 18 a 24 anos
Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 11 milhões de pessoas, entre 15 e 29 anos, se enquadram no grupo “nem-nem”, que são aqueles que não estudam e nem trabalham. Desses, mais de 25% dos desalentados estão na faixa dos 18 aos 24 anos. Ainda de acordo com o estudo, cerca de 30% de pessoas desta faixa etária estavam sendo escolarizadas em 2022. Porém, apenas 20,8% frequentavam cursos de educação superior.
Para Lya Parente, que é mestranda em Gestão de Pessoas e Gestão de Carreiras pela USP-SP, a desigualdade social e educacional segue sendo o principal problema. De acordo com a especialista, a maioria desse público é composto por jovens de baixa renda e mulheres que não tiveram a oportunidade de ter um bom preparo profissional.
“A consequência é o aumento do desemprego e desigualdade social. A geração nem-nem é recente, podendo ser observado um maior número de jovens no final da década de 90. Esse índice cresce porque o mercado de trabalho exige cada vez mais profissionais qualificados e com estudo mesmo para os jovens”, explica Lya Parente.
Além do atraso educacional, as crises econômicas e sociais podem frear a qualificação desses jovens e, consequentemente, fazer com que cada vez mais pessoas sejam inseridas tardiamente no mercado de trabalho. De acordo com o relatório publicado no ano passado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), dentre 37 países analisados, o Brasil está em segundo lugar entre as maiores populações de desalentados profissionalmente.
Como isso afeta a saúde mental dos jovens?
Com menos chances de se qualificar e com a concorrência de pessoas mais experientes e formadas, esses jovens acabam se desanimando na busca de uma vaga no mercado. Desmotivados, sem a possibilidade do auto sustento e com o crescimento econômico pessoal emperrado, problemas psicológicos aparecem pouco a pouco.
“Um dos fatores que levam as pessoas a não buscarem um estudo ou emprego é o problema de saúde mental, isso porque há uma pressão e sobrecarga cada vez mais cedo em cima desses jovens. A pandemia, a solidão, a ansiedade social, a frustração profissional, as preocupações globais e o uso excessivo das redes sociais também contribuíram para o aumento dessa geração”, revela Lya.
De acordo com Matías Mrejen, que é pesquisador do IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), a depressão entre jovens de 18 a 24 anos saiu de 5,6% em 2013 para 11,1% em 2019. Durante a pandemia, os dados coletados pela Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) também nos ajudam a entender este problema.
Segundo o levantamento, o número de jovens depressivos dessa faixa etária saiu de 7,7% para 14,8%. Dentre as principais queixas, aparecem o sentimento de insatisfação econômica, profissional e dificuldades educacionais. Na visão de Lya Parente, a solução está no investimento de formações profissionais e técnicas por iniciativas governamentais e privadas, além da criação de projetos que favoreçam a inclusão e a diversidade.
“É preciso aumentar a qualificação desses profissionais, investir no empreendedorismo jovem como uma solução para driblar as altas exigências do mercado e políticas públicas de inclusão social e de emprego. As empresas também têm um papel fundamental neste cenário, uma responsabilidade social, e cabe a elas contratarem os recém-formados, treiná-los e desenvolvê-los para os novos cargos”, finaliza.