Em debate na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, especialistas alertaram para o grande número de mortes entre crianças e mulheres na guerra na Faixa de Gaza.
Em pouco mais de 200 dias do conflito, já morreram quase 43 mil palestinos, relatou o presidente da Federação Palestina no Brasil, Ualid Rabah. As maiores vítimas dos ataques de Israel ao território palestino são crianças, quase 19 mil morreram, 44% do total de vítimas, conforme Ualid Rabah.
De acordo com o representante palestino, essa é a “maior matança de crianças” da história humana em guerras. Ao fazer uma comparação com a Segunda Guerra mundial, Ualid Rabah sustentou que, proporcionalmente, Israel mata na Palestina 16,5 vezes mais crianças do que os nazistas mataram em Auschwitz, maior campo de extermínio da Alemanha.
As mulheres representam o segundo maior grupo de vítimas da guerra, conforme o presidente da Federação Palestina. Elas somam 10,4 mil mortes, 24,5% do total, segundo informou.
Na opinião de Rabah, o assassinato de mulheres e crianças não é uma casualidade, mas parte de um projeto de eliminação do povo palestino. “É o maior programa de genocídio da história humana conhecido, que visa à desaparição de toda uma sociedade, que visa uma solução final, que visa um holocausto, talvez, jamais pensado na história humana.”
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben, manifestou a mesma opinião. Para o embaixador, a guerra de Israel não é contra o grupo terrorista Hamas, mas contra a existência da Palestina. “A guerra de extermínio é contra a ideia de resistência, a ideia de resistir ao colonialismo, se não fosse a Fatah, Hamas, Frente Popular ou a OLP, teriam lutado contra as pedras e as oliveiras palestinas, que são também símbolo da nossa terra.”
Fome
Mulheres e crianças também são as maiores vítimas da fome que acomete a região da Faixa de Gaza, conforme explicou o chefe do Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU), Vinicius Limongi.
Segundo o representante da ONU, o último relatório do órgão indica que toda a população de Gaza está nos três piores níveis de insegurança alimentar. O especialista explicou que quando a insegurança nutricional chega ao nível 5, último da escala, há o risco de morte iminente. “O caso de Gaza é único, porque nunca houve um nível tão alto, em nenhum lugar. Hoje há mais de 1 milhão de pessoas em Gaza nesse indicador 5, e há uma projeção, em especial para o Norte de Gaza, de que até junho, 70% da população estejam nesta situação. É o que a gente chama de catástrofe alimentar, é uma situação em que nem mesmo a ajuda humanitária protege mais essas pessoas”
Vinicius Limongi relatou que o Norte da Faixa de Gaza representa a região mais crítica, porque a ajuda humanitária não consegue chegar até lá. Devido a isso, a fome duplicou nos últimos dois meses, passando 15% para 30% da população em situação de emergência nutricional.
Além de condenar a morte, principalmente de mulheres e crianças, e a fome que acomete a região, o deputado Padre João (PT-MG) acrescentou que 97% da água da Faixa de Gaza estão impróprias para o consumo humano. Padre João foi um dos deputados que pediram a realização do debate sobre a situação da Palestina na Comissão de Legislação Participativa. “É inconcebível não se indignar diante deste genocídio, o número de crianças que já foram assassinadas, mulheres assassinadas, destruição de áreas públicas, como hospitais.”
O representante do Ministério das Relações Exteriores Carlos Antunes Santos sustentou que o Brasil defende o reconhecimento do Estado Palestino como melhor maneira de garantir a paz e a segurança na região do conflito. Segundo disse, essa sempre foi a posição brasileira, desde a criação do Estado de Israel, em 1948.
Protesto
Após o encerramento da audiência pública, presidida pelo deputado Glauber Braga (Psol-RJ), o deputado Abilio Brunini (PL-MT) protestou por não ter podido participar do debate. Ele afirmou que fará novo requerimento para realização de audiência pública, com os mesmos convidados, para dar espaço a deputados com posição divergente de dialogarem. “Eu não celebro a morte de inocentes. São reféns de um governo terrorista que é o Hamas. Mas Palestina também precisa pregar a paz com os territórios vizinhos”, afirmou. Brunini também falou sobre a dor do povo de Israel e dos reféns mantidos pelo Hamas.