As eleições municipais são um momento crucial para discutir soluções voltadas diretamente às necessidades do município, onde os candidatos devem apresentar propostas que impactem tanto a vida dos eleitores da área urbana quanto da rural. No entanto, muitos candidatos cometem o erro de trazer a polarização nacional para o debate local, apostando em ideologias e alinhamentos partidários que pouco têm a ver com a realidade municipal. Nessas eleições, raramente o que está em jogo é partido ou ideologia — o que realmente importa são as pessoas, a reputação, a história de vida e a conexão genuína dos candidatos com os eleitores.
Um exemplo claro desse equívoco ocorreu aqui em Rondônia, no município de Cujubim. Sobral, candidato de oposição pelo PL (22), tentou associar sua campanha ao ex-presidente Jair Bolsonaro, adotando uma postura “de direita”. Enquanto isso, João Becker (foto), do União Brasil (44), focou em sua própria trajetória e reputação. Sobral tentou rotular Becker como “de esquerda”, numa tentativa de desqualificá-lo aos olhos dos eleitores. Contudo, o resultado foi claro: Becker venceu com 54,70% dos votos. A tentativa de Sobral de importar a polarização nacional para uma disputa municipal mostrou-se ineficaz, pois o eleitor de Cujubim estava mais interessado em propostas reais e na confiança depositada em quem conhece os problemas do município, tanto na área urbana quanto na rural.
O cenário já havia ocorrido anteriormente em Candeias do Jamari, durante a eleição suplementar de junho deste ano. Dr. Ribamar Araújo, do PL, também apostou na polarização nacional, tentando usar a imagem de Bolsonaro como trunfo. No entanto, foi derrotado de forma contundente por Lindomar Garçon, ex-deputado federal e ex-prefeito do município. O que pesou na eleição foi a história de vida e a reputação local de Garçon, que tinha uma ligação mais próxima com os eleitores. Ribamar, focado na política nacional, perdeu a chance de construir uma conexão genuína com os eleitores, que estavam mais interessados em soluções concretas para o município.
Erros semelhantes se repetem em diversos municípios de Rondônia. Em Machadinho D’Oeste, o candidato Edson Welten, embora não fosse do partido do ex-presidente, também tentou utilizar a imagem de Bolsonaro para impulsionar sua campanha. Mais uma vez, ficou claro que essa abordagem é ineficaz nas eleições locais. O eleitor não está interessado em figuras nacionais distantes, mas em alguém que entenda e se importe com os problemas do município, tanto na zona urbana quanto na rural. Edson não conseguiu estabelecer uma conexão autêntica com os eleitores, o que se refletiu em um desempenho fraco nas urnas.
Outro exemplo é Alto Paraíso, onde Leandro Ambrósio, candidato do PL, tentou basear sua campanha em pautas ideológicas e alinhamentos nacionais. O resultado foi uma vitória esmagadora para João Pavan, com 74,07% dos votos, enquanto Ambrósio, com seu discurso polarizador, ficou com apenas 22,60%. Em Monte Negro, a candidata Márcia Fagundes (PL) provou que partido não importa, sendo derrotada pelo prefeito Ivair Fernandes (PSD), com 81,19% dos votos contra 18,81%. Em ambos os casos, os candidatos vencedores consolidaram suas boas reputações diante do eleitorado, obtendo ampla margem de vitória.
Ao tentar trazer a polarização nacional para uma eleição municipal, os candidatos assumiram o risco de se distanciar dos eleitores. Eles não estão interessados em discussões ideológicas ou em alinhamentos com líderes nacionais; querem soluções práticas para problemas como saúde, educação, infraestrutura e segurança, tanto na cidade quanto no campo. A política municipal é sobre proximidade, sobre ter um nome que as pessoas reconhecem e que tem um histórico comprovado de trabalho no município. Candidatos que falham em entender isso e tentam importar disputas nacionais para o contexto local correm o risco de ver suas campanhas desmoronarem. O sucesso nas urnas vem daqueles que conseguem conquistar o coração do eleitorado com propostas reais e um compromisso autêntico.
Ivan de Lara – Estrategista e consultor de marketing político, especialista em comunicação governamental