No próximo dia 8 de março, será comemorado o Dia Internacional da Mulher. A ideia da data surgiu nos primeiros anos do século 20 para marcar as lutas feministas por melhores condições de vida e trabalho, além do direito de voto. Porém, mais de 100 anos depois, a mulher ainda continua vítima de discriminação no trabalho.
Dados de um ranking sobre igualdade de gêneros entre os países, divulgados pelo Fórum Econômico Mundial aponta que, em 2014, o Brasil foi o 71º colocado em relação à igualdade salarial entre homens e mulheres. Segundo a pesquisa, que evidencia uma diminuição na igualdade salarial para o sexo feminino, a disparidade aumentou em relação a 2013, quando o País estava em 62º lugar, nove posições acima.
Em um cenário um pouco diferente, em Uberlândia, maior cidade do Triângulo Mineiro, segundo especialistas ouvidos pela reportagem do CORREIO de Uberlândia, as mulheres têm galgado cargos mais altos e conquistado salários equiparados com os dos homens, mas ainda sofrem com menos oportunidades.
É o que afirma Cícero Penha, vice-presidente de Talentos Humanos do Grupo Algar. Segundo ele, não há uma diferenciação de remuneração a depender do gênero. “As empresas remuneram com base na competência e capacidade de dar bons resultados, independentemente de ser homem ou mulher. As diferenças estão nas oportunidades que, para os homens, ainda são maiores, por eles serem mais autônomos, no sentido de que o cuidado da família ainda fica a cargo dela na maior parte. Há diferenças entre os sexos, mas, no mercado de trabalho, isso tende a desaparecer”, afirmou.
Maternidade atrapalha
Para a coach Talyta Leão, a diferenciação salarial ainda ocorre na prática, mas as empresas negam esse fenômeno por meio de um discurso de igualdade. “Pesquisas mostram que as diferenças salariais variam de 18% a 25%, mas isso vem disfarçado com o título. A mulher desempenha a mesma função que o homem, mas ele tem um cargo acima e isso justifica a remuneração melhor. Isso é tão intrínseco, culturalmente, que muitas mulheres não percebem que há essa diferença”, afirmou.
As oportunidades mais escassas também são um entrave para equiparação salarial. “Muitas se sujeitam porque precisam do trabalho e, a elas, aparecem menos chances. Ainda há uma mensagem subliminar na sociedade de que a maior responsabilidade de cuidar dos filhos é dela e não é repartida igualmente com o pai, então, algumas empresas, são mais seletivas, porque elas têm maior possibilidade de faltar”, disse.
Elas dizem que são menos prestigiadas para cargos de chefia
A engenheira agrônoma Marcela Cristina Garcia Cunha, de 29 anos, afirma que o fato de ser mulher sempre pesou profissionalmente. “Trabalhei em uma multinacional como representante técnica de vendas e tinha uma equipe para gerenciar. Trabalhava compulsivamente para ser a melhor, entregava o dobro da meta estabelecida, mas eu não conseguia ser valorizada pela competência, pela qualidade de meu trabalho, pela coragem e perspicácia de executar com excelência minhas metas. Algo não era o bastante para me promover. Eu era sempre elogiada pelos gerentes e diretores, sempre proativa, mas me sentia discriminada pelo RH da empresa, pois o meu salário fixo era sempre o menor, por mais que eu vendesse mais que todos”, disse.
Nessa situação, por dois anos consecutivos, ela se sentiu desmotivada e resolveu abandonar o trabalho de carteira assinada e atua como consultora autônoma. “O principal desafio da mulher é ser reconhecida pelo mercado de trabalho como um profissional independente do sexo”, afirmou.
Já para Mariella Florentino Garcia Pavesi, presidente do Conselho de Família do Grupo Algar, o fato de ser mulher não interferiu nas relações de trabalho. “Nunca sofri nenhum tipo de preconceito ou discriminação por ser mulher e ocupar um alto cargo. Aliás, todos que foram presidentes do Conselho foram mulheres. O que percebo do mercado de trabalho é que há mais oportunidades para homens atuarem em cargos de chefia, sobretudo por uma questão de autonomia e disponibilidade. Mas há espaço para mulheres e o salário é equiparado se o cargo for o mesmo. Somos intelectualmente iguais”, disse.
Fonte: Correio de Uberlândia