Um projeto que vem sendo desenvolvido por meio de parceria entre o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) está mudando a realidade de moradias protegidas privadas e casas lares em Porto Alegre. Os locais acolhem pessoas com transtornos mentais que não possuem referências familiares ou cujos parentes não têm condições financeiras e estruturais para tomar conta dessas pessoas.
Através da iniciativa da promotora Liliane Dreyer da Silva Pastoriz, do Núcleo da Saúde da Promotoria de Justiça dos Direitos Humanos de Porto Alegre, foi assinado, em 2022, em conjunto com o Núcleo Permanente de Incentivo à Autocomposição – Mediar-MP, termo de cooperação com a PUCRS. A parceria tem por objeto a capacitação de proprietários e colaboradores de algumas dessas moradias protegidas, que são fiscalizadas pela 1ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos de Porto Alegre, por professores e estudantes de diversos cursos de graduação da Universidade, para o aprimoramento das atividades e cuidados aos acolhidos e aos próprios cuidadores.
O projeto-piloto, realizado ainda em 2022, abrangeu três residenciais: a Casa Minho/Marlene, o Lar Santa Rita de Cássia e o Atelier Terapêutico e Residencial. Em todas as instituições, o predomínio de diagnóstico é do espectro das esquizofrenias e comorbidades. Nesta primeira etapa foram capacitadas seis pessoas, com a participação dos cursos de Farmácia, Psicologia e Nutrição.
“Essas casas apresentavam irregularidades, mas percebemos a disposição dos proprietários em acertar, fazer o melhor possível. Assim surgiu a ideia dessa parceria com a universidade, que acabou trazendo um resultado muito positivo para todos, qualificando o atendimento prestado aos acolhidos, dentro das limitações das moradias, ao mesmo tempo em que trouxe um conhecimento diferenciado aos estudantes que colaboram no projeto, permitindo contato com a realidade das instituições. A acolhida aos selecionados para a capacitação é ímpar. Eles são recebidos no ambiente da universidade, que disponibiliza toda a sua estrutura. O conhecimento é compartilhado pelos professores, proporcionando experiências transformadoras”, conta Liliane Pastoriz.
AMPLIAÇÃO DO PROJETO
Com o sucesso do projeto-piloto, em 2023, as atividades foram ampliadas para os cursos de Biologia, Biomedicina, Enfermagem, Teologia, Letras, Fisioterapia, Direito e Escrita Criativa, além da participação da Biblioteca. Também serão retomadas atividades com as graduações de Nutrição, Psicologia e Farmácia. Os estudantes incluirão nas atividades visitas às casas, enquanto no piloto todas as atividades aconteceram somente nas dependências da PUCRS. Serão acompanhadas pelo projeto diversas moradias protegidas privadas, dentre as quais o Lar Emanuel, Lar Emanuel Restinga, Centro de Reabilitação Vita, Residencial Equilíbrio e a casa Marta Maria, além das três iniciais, que seguem também participando das capacitações.
“Entendemos que esse projeto está em consonância com o que a PUCRS prioriza no que diz respeito à questão social, ao propósito da universidade. Nós preparamos profissionais que serão atuantes dentro de uma sociedade. Envolve um espírito humano e traz um impacto social bem importante”, avalia a decana da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, professora Andrea Gonçalves Bandeira.
O objetivo do projeto é qualificar a atenção em saúde e proporcionar melhorias nos atendimentos aos acolhidos por meio de informações sobre cuidados gerais sobre medicamentos, seu uso seguro e descarte correto; elaboração de plano de gerenciamento de resíduos em serviço de saúde; incentivo à adoção das boas práticas de higiene e de manipulação de alimentos; desenvolvimento de ações de educação em saúde para trabalhadores de serviços que compõe a Rede de Atenção Psicossocial. Também, proporcionar um espaço terapêutico para os trabalhadores e trabalhadoras pensarem sobre as possibilidades de saúde no contexto de trabalho construindo ações de autocuidado, por meio da identificação dos fatores de sofrimento e adoecimento no trabalho e na criação de estratégias defensivas contra esse sofrimento. Por fim, visa o desenvolvimento do projeto terapêutico singular; e outras ações de qualificação da atividade que tem como escopo as pessoas.
“Antes, só recebíamos cobranças de todos os lados. Atualmente, o conhecimento nos trouxe muito mais segurança de estar fazendo o certo. Essa troca nos fortalece e dignifica o nosso trabalho”, afirma a responsável pela Casa Minho/Marlene, Lílian Machado. Ela e o os demais participantes do projeto-piloto Reginaldo Casagrande de Almeida, do Lar Santa Rita de Cássia, e Rogério Ramos de Souza, proprietário do Atelier Terapêutico e Residencial, destacam o quanto a parceria entre a PUCRS e o MPRS, por meio da promotora de Justiça Liliane, transformaram a realidade deles pra melhor. “Para além das melhorias práticas, essa atenção e o contato com a universidade trouxeram um resgate da nossa autoestima como profissionais”, ressalta Rogério Souza. Os três se conheceram durante os trabalhos e formaram uma rede de trocas de experiências e auxílios.
PRIMEIRO ENCONTRO EM 2023
Aconteceu na tarde da terça-feira, 2 de maio, na PUCRS, o primeiro encontro do projeto ampliado, com a participação dos proprietários e colaboradores das casas, professores e alunos da universidade. Compareceram, na ocasião, 26 representantes de instituições. Há pedidos para ingressos de novos participantes.
“Somos reconhecidos pelas magníficas parcerias que temos estreitadas com os promotores de Justiça, incansáveis na defesa de direitos e humanização do cuidado. Hoje, a PUCRS tem mais de sete projetos ativos com o MPRS. Está no DNA da universidade uma visão ‘além-muros’”, pontuou o diretor de Relações Institucionais da PUCRS, Solimar Amaro, na abertura dos trabalhos.
Além de Liliane Dreyer Pastoriz e Andrea Bandeira, também estiveram presentes as professoras Clarissa Blattner, coordenadora de Ensino do Serviço em Saúde da Prograd, e Marion Creutzberg.