O governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), adotou medidas de enfrentamento à Hidatidose ou Equinococose Neotropical, agravo popularmente conhecido como doença da paca, que atualmente apresenta 87 casos suspeitos no Vale do Juruá, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“A infecção no ser humano ocorre principalmente pela ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes de cães, que são alimentados com vísceras cruas de paca acometidas pela doença. Na nossa região, há a cultura de se premiar os cães utilizados em caça com esse tipo de alimento, o que ocasiona a infecção do animal e, consequentemente, do ser humano”, explica médico veterinário João Nélson Morais, que é responsável pelo Núcleo de Zoonoses da Coordenação Regional de Saúde do Juruá, Tarauacá e Envira.
As ações de enfrentamento foram realizadas em Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves e Mâncio Lima, municípios onde foram registrados os casos confirmados do agravo. Durante os dias 17, 18 e 19 deste mês, equipes do setor de Vigilância em Saúde da Regional ofertaram aos gestores da pasta de Saúde dos municípios capacitações para expor os resultados encontrados pela Fiocruz, orientações sobre a etiologia, os sinais clínicos e a epidemiologia da doença, além do seu tratamento e diagnóstico.
“No momento, estamos alinhando a implantação na regional de fluxos de diagnóstico fecal canino e envio de amostras”, informa Morais ao expor que atualmente o diagnóstico é realizado no país por meio de laboratório da Fiocruz, localizado no Rio de Janeiro, e que a logística atrasa em meses o acesso aos resultados. “Com a oferta do diagnóstico fecal in loco, podemos identificar se os cães doentes convivem com pessoas que apresentam sintomas da doença. É uma forma de tornar mais célere o tratamento das pessoas e dos cães infectados. Eles [os cães] são essenciais para fornecer dados epidemiológicos e de distribuição da doença na região”, enfatizou.
Doença da paca: conheça os sintomas
A hidatidose neotropical é uma helmintíase, doença causada pelo parasita Echinococus vogeli, que ao se alojar no trato gastrointestinal, um tubo oco que se estende da cavidade bucal ao ânus, ou em outros tecidos do corpo humano causa uma série de sintomas, como emagrecimento, febre, náuseas, vômitos, diarreia, sensação de distensão abdominal e de plenitude epigástrica (sensação desagradável de persistência de alimentos no estômago), além de dores abdominais na região superior (do lado direito) do fígado.
Fiocruz capacita profissionais do Juruá
Em setembro de 2023, a equipe que integra o Laboratório de Parasitologia Integrativa e Paleoparasitologia da Fiocruz visitou o Juruá para capacitar profissionais de Saúde e de Educação sobre a hidatidose.
A união de esforços foi fundamental para a promoção de conhecimento sobre a doença da paca. “As capacitações da Fiocruz nos deram subsídio [informações] para identificar os locais de maior risco do agravo, a população afetada, o ciclo da doença, o papel do cão no ciclo, o número de casos, além das formas de prevenção e controle para que possamos realizar atividades de educação em Saúde, com o objetivo de orientar a população”, ratificou Morais.