Em tempos de reforma política, quando temas como a proibição do financiamento empresarial de campanhas voltam à tona, o cientista Leonardo Sales resolveu fazer o cruzamento de dados sobre os gastos pagos pelos deputados com a cota parlamentar e as doações recebidas por eles.
Os números foram fornecidos pela Câmara e pelo Tribunal Superior Eleitoral, de acordo com informações da Folha de S. Paulo. Foram analisados, segundo o pesquisador, 68.978 registros de doações e 793.463 de despesas pagas pelas cotas parlamentares.
Conforme a própria Câmara, cada deputado tem direito a cerca de R$ 40 mil mensais, para usar em gastos “exclusivamente vinculados ao exercício da atividade parlamentar”.
O resultado mostra que 108 dos 513 ocupantes da Câmara – um em cada cinco – usaram a cota parlamentar, ou seja, o dinheiro público, para pagar empresas que, posteriormente, realizaram doações a estes mesmos deputados.
Os dados se referem ao ano de 2014 e, embora naquela época ainda fosse permitido que pessoas jurídicas pudessem fazer doações a políticos, o doutor em direito e especialista em financiamento eleitoral Bruno Carazza afirma que a prática evidencia os vícios da relação público-privada no Brasil.
No total, entre 2013 e 2017, foram gastos R$ 7,45 milhões em verbas da cota parlamentar com empresas que doaram de volta R$ 3,3 milhões.
Na avaliação de Carazza, o levantamento de Sales aponta para o uso da cota parlamentar em benefício próprio ou dos seus financiadores.
“Trata-se de uma forma de corrupção de dimensões menores que a da Lava Jato, mas igualmente condenável. A ciência de dados será uma arma poderosa para aumentar a cobrança sobre políticos e autoridades dos Três Poderes”, destaca Bruno Carazza.
Fonte:Notícias ao Minuto