O Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), apelidado de Enem dos concursos, mobiliza mais de 2,1 milhões de pessoas neste domingo (18), todas em busca de um emprego no serviço público federal. A proporção nunca antes vista deste que, segundo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, o maior da história do Brasil, provoca ansiedade e expectativa nos candidatos.
Na faculdade Unisuam, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, a movimentação de candidatos começou logo cedo. Pouco antes da abertura dos portões, às 7h30, uma enorme fila contornava um quarteirão, se estendendo entre as avenidas Paris, onde fica a faculdade, Praça das Nações e a Avenida Londres.
A jornalista Taiani Mendes, que concorre a vagas no bloco 7, chegou antes da abertura dos portões, com medo de se atrasar e perder a prova. “É melhor adiantar do que atrasar. Eu moro longe. Fiquei com medo do ônibus não passar, do Uber ficar caro”, contou. “Acho que vai ser muito cansativo, um dia inteiro de prova”, acrescentou a candidata que, apesar disso, acredita que vale a pena concorrer a uma vaga no serviço público. A estabilidade no emprego é o atrativo.
A professora Andreza Santos de Andrade também concorre a vagas no bloco 7 e chegou cedo ao local de prova. “Eu trabalhei muito tempo na Fiocruz, como terceirizada, então vi que o serviço público é uma boa opção, tanto pela questão da jornada de trabalho quanto pela remuneração. Tenho feito vários concursos, com a consciência de que quanto mais me preparo, maiores são as minhas chances”.
O desenhista Lucas Santoro quer novas oportunidades no serviço público. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Servidor público há dez anos, o desenhista projetista Lucas Santoro, que trabalha no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cetet-RJ), busca no CPNU, novas oportunidades no funcionalismo público. “Estou buscando uma mudança de ares, permanecendo no Executivo federal. Busco salário melhor e uma mudança de atividade”, disse, pouco antes de entrar no local de prova.
As provas estão sendo aplicadas em outros 292 locais na cidade do Rio e 402 no estado. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), também na zona norte da capital fluminense, o esquema de segurança contou com uma patrulha da Força Nacional de Segurança. Cerca de 250 homens da força estão atuando em locais de prova de 29 municípios de oito estados.
Suellen de Paula Martins, que trabalha como funcionária terceirizada no Judiciário estadual, faz o exame na Uerj e está tentando uma vaga para analista administrativo.
“Espero que seja um concurso tranquilo e fácil, na medida do possível. Optei pela administração pública porque, na minha mente, trabalhando nessa área e estando no meio, eu poderia melhorar alguma coisa e contribuir para a sociedade”, conta.
Projeto pessoal
Próximo da Uerj, na Escola Técnica Ferreira Viana, a cientista social e bacharel em direito Cleoneide Sousa Vieira Alexandre, de 47 anos, espera ser classificada para uma das vagas de auditor fiscal do trabalho e conquistar tanto estabilidade financeira quanto realização profissional.
“Concurso público existe como um projeto desde os meus 26 anos, após me formar em ciências sociais. Depois entrei num curso de direito e, no meio dessa graduação, engravidei. Com a maternidade, acabei abrindo mão da profissão e dei uma parada nesse projeto de concurso público. Neste ano, eu retomei, embora estudar tenha sido um desafio”, relata.
Oportunidade
Jessica Rodrigues é formada em direito e chegou a ser aprovada na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas não quis seguir na carreira da advocacia. No CPNU, ela também concorre a uma vaga para auditor fiscal do trabalho.
“O Enem dos Concursos trouxe a possibilidade da participação dos candidatos com a redução de custos com viagens, hospedagem, alimentação, que seriam indispensáveis se o processo não fosse unificado. Me inscrevi para o cargo de auditor fiscal do trabalho, em razão da oferta de vagas oferecidas no certame e dos vencimentos, bem como pela divisão de blocos possibilitar que o candidato dispute ao mesmo tempo a vários cargos, de acordo com a sua preferência e ordem de classificação”, explica.
A estudante de administração pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Yasmin Ferreira, faz a prova na própria faculdade, em Niterói, no Grande Rio, e vai concorrer a uma das vagas de nível médio do CPNU.
“Por ser estudante de administração pública, vejo nesse concurso uma oportunidade para que as pessoas possam entrar no serviço público e tenham mais estabilidade financeira, que é o meu caso. Acho esse projeto [do CPNU] muito interessante, pois acredito que possa trazer um novo vigor ao serviço público, com servidores novos, com novas ideias e críticas construtivas, que tragam melhorias à população”.
Atrasos
O candidato Guilherme Oliveira chega atrasado para as provas do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU). Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Alguns candidatos, no entanto, precisarão esperar uma nova oportunidade. O jornalista Guilherme de Oliveira, por exemplo, chegou às 8h35 à Uerj. Os portões tinham fechado cinco minutos antes e ele ficou de fora do exame.
“O trânsito nem estava ruim. Eu que me organizei mal. Devia ter saído mais cedo. Mas está feito, tenho que assumir minha responsabilidade [pelo atraso]. Mas tem outras provas pela frente”, lamentou.
As provas, objetiva e discursiva, serão aplicadas em dois turnos: manhã e tarde. De acordo com o cronograma divulgado pelo Ministério da Gestão, o gabarito das provas sai na próxima terça-feira (20) e as notas serão divulgadas em 8 de outubro. O resultado final está previsto para 21 de novembro.