Diante de um envelhecimento populacional cada vez mais acelerado, especialistas sugerem o que chamam de “geriatrização” do sistema de saúde, que inclui a melhoria da formação dos profissionais para atender aos idosos, o aumento no número de geriatras e o fortalecimento de equipes multidisciplinares.
A falta de geriatras no país foi objeto de audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa nesta terça-feira (23). Durante o debate, foi informado que existem 2.700 especialistas registrados no Conselho Federal de Medicina e 1.691 profissionais pelos números da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
São 1.406 geriatras credenciados no Sistema Único de Saúde (SUS). Pelos números do Ministério da Saúde, 55% dos profissionais especializados estão nas capitais e 58% se concentram na região Sudeste.
A geriatra Karla Giacomin, do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC), ressalta que muitos cursos de medicina não têm uma disciplina sobre envelhecimento. Dos cerca de 42 mil alunos de residência médica no país, apenas 0,7% optam pela geriatria.
Ela salienta que, apesar da Política Nacional do Idoso, criada em 1994, e do Estatuto do Idoso, de 2003, preverem a capacitação de profissionais para o cuidado dos mais velhos, a desigualdade social faz com que seja bem diferente envelhecer na classe média alta e na periferia.
Para o representante da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Carlos Uehara, a oferta anual de vagas para residência em geriatria não chega a 200 postos. Ele diz que o modelo atual de saúde está muito centrado no hospital e no médico e que, com o aumento da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis, é preciso uma mudança para incorporar outros profissionais, como fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e nutricionista.
“A gente tem que começar a olhar a população idosa também como uma oportunidade e possibilidade de desenvolver ações de prevenção para que esse idoso não evolua para uma dependência, uma necessidade de leito de longa permanência. E para isso, as equipes multidisciplinares são extremamente importantes”, disse.
Excesso de medicamentos
A professora Margot Karnikowski, da Universidade de Brasília (UnB), aponta as consequências da falta de geriatras na vida dos mais velhos: uso exagerado de remédios; dificuldade de avaliação da perda de vitalidade do idoso e da entrada na senilidade; diagnóstico tardio de doenças e custos elevados ao sistema de saúde pelo agravamento dessas doenças.
Representando a Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Ligia Gualberto lembra que o número de idosos no país cresce 4% ao ano, o que significa mais 1 milhão de pessoas, e que 70% deles usam o Sistema Único de Saúde (SUS). Ela aponta que providências podem ser tomadas para melhorar o atendimento a essa parcela da população, como a capacitação dos profissionais da atenção primária.
“As ações intersetoriais envolvem também o fortalecimento da rede especializada, com ambulatórios de geriatria, ambulatórios de cuidados paliativos, ambulatórios de outras especialidades clínicas e centros de reabilitação”, disse.
Política pública
Para a deputada Rogéria Santos (Republicanos-BA), que propôs o debate sobre a falta de geriatras no país, é preciso acompanhar de perto como vai se dar, daqui para frente, a adaptação do sistema público de saúde ao aumento da população idosa.
“A gente começa a entender que política pública é muito mais do que mera falácia. Política pública é construção e a gente precisa considerar todos os públicos da sociedade. E a gente, ainda que precise pegar pela mão os idosos do Brasil, esta comissão está disposta a isso”.
As projeções do Ministério da Saúde são de que de 25% a 30% dos idosos precisariam de tratamentos de alta complexidade. Por isso, seriam necessários entre 7 mil e 9 mil geriatras atuando no país.