Especialistas apontaram nesta terça-feira (7) as notícias falsas contra a vacina contra o HPV como um dos entraves ao avanço da imunização contra o câncer de colo de útero. O assunto foi tratado pela comissão especial da Câmara dos Deputados que acompanha o combate ao câncer no país.
Para o ano de 2023, foram estimados 17 mil novos casos desse tipo de câncer, que é o terceiro mais incidente entre mulheres, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A vacina é considerada o meio mais eficaz de prevenção ao vírus transmitido por contato sexual (Papilomavírus Humano) que é a causa de outros tipos de câncer, como o de canal anal, pênis e vulva.
Para o coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Fernando Henrique de Albuquerque Maia, o “negacionismo” da eficácia da vacina, ao lhe atribuir falsos efeitos colaterais, contribuiu para a rejeição de parte da população à imunização.
“A gente passou por anos de negacionismo da eficácia das vacinas como um todo e em específico ao da vacina do HPV com a suposta alegação de que a vacina tem alguma relação com estímulo à atividade sexual”, disse.
Maia informou que a Pasta atua para trocar o teste de Papanicolau, que surgiu em 1920, pelo de rastreamento molecular, considerado de alta performance pela OMS, como método de prevenção do câncer de colo de útero.
“Não é só a mudança para o teste molecular é também reorganizar o rastreamento, construir ele de forma organizada e construir toda a linha de cuidado do teste até que tenha o tratamento adequado ou no caso de câncer que seja encaminhada ao centro de alta complexidade”, observou. Ele reforçou que o rastreamento já vem sendo implantado pela secretaria de saúde em Pernambuco.
A Coordenadora do Programa Útero é Vida da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, Jurema de Oliveira Lima, também reconheceu as dificuldades impostas ao tratamento pela propagação de notícias falsas.
“A primeira fake news de vacina foi com a vacina do colo de útero, em que se fala muito de estimulação sexual. Mas, a gente não vê quantas vidas são desperdiçadas, mais de um milhão de crianças ficam órfãs porque perderam suas mães”, frisou a oncologista.
Segundo ela, 70% dos casos de câncer invasivo em Pernambuco foram de mulheres que nunca fizeram o preventivo ou não faziam o exame há mais de 5 anos.
Determinantes sociais
Segundo dados do Inca, o câncer do colo do útero é o segundo mais incidente nas regiões Norte (20 casos para 100 mil mulheres) e Nordeste (17casos para 100 mil) e o terceiro na Centro-Oeste (16 casos para 100 mil).
Diante desse cenário, a representante do Instituto Oncoguia, ONG de defesa dos direitos de pacientes com câncer, Helena Esteves, chamou atenção para as determinantes sociais e o estigma vinculado às doenças relacionadas aos órgãos genitais.
“A gente está falando de uma paciente que é vulnerável, muitas vezes de população ribeirinha e que moram em comunidades mais carentes. Então, a gente precisa levar informação e dar acesso aos serviços básicos de saúde a essas mulheres”, disse.
Vacinação nas escolas
A deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), que solicitou a realização da audiência, elogiou a atuação do Ministério da Saúde, mas disse que ainda há gargalos a serem superados nas políticas de prevenção.
“É uma doença curável portanto a responsabilidade ainda é maior porque quando ela é curável e agente não faz nada, a sensação é de que você não está trabalhando para que isso ocorra”, disse. A parlamentar fez a sugestão para que a vacinação passe a ser obrigatória nas escolas.
Hoje, o SUS oferece a vacinação em duas doses para meninas e meninos entre 9 e 14 anos. Também estão incluídos no esquema de vacinação homens e mulheres transplantados, pacientes oncológicos em uso de quimioterapia e radioterapia, pessoas vivendo com HIV/Aids e vítimas de violência sexual.