O governo do Estado, de mãos dadas com gestores municipais e a União iniciou uma força-tarefa para levar ação humanitária para as mais de 150 mil pessoas atingidas pela cheia dos rios no Acre. Todo esforço foi reunido em doações e ações que chegaram em todos os municípios atingidos. Ao todo, foram entregues quase 10 mil cestas básicas, totalizando 146,2 toneladas de alimentos.
Além disso, foram 13.164 litros de água mineral e 3.942 kits de limpeza doados em ações de assistência a essas famílias. Uma força-tarefa dessa proporção só foi possível com a união de todos, poder público e sociedade civil. Mas, não foram apenas recursos físicos que fizeram parte de toda essa rede de apoio, pois os recursos humanos empenhados para as diversas ações envolveram todas as secretarias e servidores do Estado.
Com as águas baixando e os rios voltando à sua calha normal, o governo do Estado faz uma avaliação de como foi coordenar serviços e estar presente, de forma inédita, em todas as cidades atingidas pelas inundações. Com 19 municípios em estado de emergência, este já é considerado como o maior desastre ambiental do estado.
Planejamento
Todo esse trabalho começa muito antes da cheia. A Defesa Civil Estadual iniciou, ainda no ano passado, a capacitação das coordenadorias municipais para atuação em eventos extremos, como o registrado no primeiro trimestre deste ano. Foram dois encontros, um em Cruzeiro do Sul e outro em Brasileia, para alinhar as ações.
“Nós passamos orientações a respeito dos procedimentos técnicos de fortalecimento da Defesa Civil Municipal, conhecimento como utilizar o sistema S2ID [Sistema Integrado de Informações sobre Desastres], que é uma ferramenta onde você repassa as informações para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional sobre a situação que se encontra no município”, pontua o coordenador estadual da Defesa Civil estadual, coronel Carlos Batista.
Essa capacitação garantiu resposta rápida, já que os decretos municipais puderam ser reconhecidos de forma ágil pelo governo federal, o que pôde garantir mais recursos no atendimento emergencial a essas pessoas.
“Nós da Defesa Civil estadual antecipamos algumas fases, como o decreto de situação de emergência, já que os 19 municípios puderam preencher, de forma adequada, o formulário de informação do desastre. Isso fez com que as prefeituras já começassem a elaboração do plano de resposta de ação humanitária e de assistência de resposta de ação humanitária para solicitar esses recursos”, pontua o coronel.
Essa agilidade contribuiu para que os danos não fossem maiores diante do cenário em todo o estado. Paralelo a esse trabalho desenvolvido com as prefeituras, o governo do Estado montou equipes coordenadas por secretários e presidentes de autarquias, para estarem pessoalmente em todos os municípios afetados. Essas pessoas, além de serem peça chave na execução de todo o plano de atendimento, são os principais interlocutores entre Estado e Município, ponderam a especificidade e demanda de cada região.
Estado presente
Acompanhando todas as ações de perto, o governador Gladson Cameli esteve em várias das localidade atingidas, inclusive aquelas mais distantes e em municípios isolados.
Uma dessas localidades, é a Aldeia Indígena Jatobá, do Alto Rio Iaco, localizada no município de Assis Brasil. Cameli conduziu a ação humanitária até o local, acompanhado da Secretária Extraordinária dos Povos Indígenas (Sepi), Francisca Arara.
“Fiz questão de estar presente aqui, nessa ação conjunta entre o Estado, União e Município. Estou vendo e acompanhando de perto a situação que os povos tradicionais dessa região estão enfrentando. Toda a estrutura governamental está à disposição, principalmente para o período pós-enchente”, frisou.
‘Ninguém parava’
Nas equipes montadas, todas as secretarias estavam envolvidas, inclusive os órgãos da Segurança. Nessa linha de frente, os bombeiros são essenciais para a remoção de famílias e para a proteção das pessoas atingidas. Para o comandante do Corpo de Bombeiros do Acre, coronel Charles Santos, esse pode ser considerado um dos maiores desafios da corporação, que se manteve vigilante a todo momento, reunindo dados e informações na sala de situação montada no Comando.
“Atendemos os 19 municípios, e onde não tinha unidade operacional dos Bombeiros fizemos o deslocamento de militares para auxiliarem a Defesa Civil de cada município na questão de organização de abrigos, atendimento às vítimas, deslocamento de desalojados, preenchimento das fichas, prestação de contas e ajuda humanitária”, pontua.
Por dia, em Rio Branco, segundo o comandante, chegaram a trabalhar 400 militares em 24 horas. “Ninguém parava. De acordo com a evolução do rio, essas pessoas eram demandadas para diversas missões e junto com elas também não pararam as outras missões, que eram de mergulho, salvamento e incêndio, que tiveram também constantemente. Eu digo que, como profissional de Segurança Pública, foi um aprendizado, onde nós fomos testados no limite, mas posso afirmar que o Estado deu resposta à altura daquilo que a população tanto precisava porque fomos de encontro aos anseios dessas pessoas e mitigando danos”, avalia.
O braço do Estado
Cada servidor foi destacado para fazer parte dessa grande missão que tinha o foco de reduzir danos e chegar aos que mais precisavam, um trabalho que não é fácil e que se torna impossível sem união. Para isso, cada coordenador dessa ação humanitária se tornava o braço do Estado naquele local.
O Acre, assim como todos os outros estados da Amazônia, tem uma particularidade: cidades isoladas, onde só é possível chegar de barco ou avião de pequeno porte. Essa logística ainda é mais complicada quando se trata de terras indígenas, onde, em alguns casos, a viagem até lá pode durar até 10 dias pelo rio.
Uma dessas cidades isoladas é Santa Rosa do Purus, que tem 6.723 habitantes. O coordenador da equipe nessa cidade foi o presidente da Companhia de Armazéns Gerais e Entrepostos do Acre (Cageacre), Pádua Bruzugu. Para ele, a logística foi a maior dificuldade.
“O mais difícil é a ida para esses municípios isolados, que tem que ser de avião ou então de barco. Fomos de avião e a gente botou 700 kg de insumos nesse avião. Chegando lá, me reuni com o prefeito e coloquei toda a equipe estadual à disposição para o que fosse necessário. Foi muito importante essa presença do Estado no município, porque deu segurança, e a gente podia registrar e repassar a dimensão da cheia em cada uma dessas cidades”, relembra.
Agricultura
Durante essa enchente, a Secretaria de Agricultura (Seagri) adquiriu, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), 104 toneladas que foram destinadas aos abrigos em todo o estado. O secretário da pasta, Luiz Tchê, explica que essa foi uma ação que conseguiu atender duas pontas, o produtor e quem estava precisando de apoio naquele momento.
Foi ele também que coordenou os trabalhos em Brasileia, o município mais crítico e que registrou sua maior cheia da história. “Rapidamente, a gente reuniu nossa equipe e fomos a Brasileia, onde encontramos o caos instalado. A presença do governo ajudou muito, porque deu a paz e tranquilidade que a equipe do município precisava para poder atender todo mundo”, diz.
O secretário estima que 8.770 famílias de produtores rurais foram atingidas com essa cheia. Agora, a Seagri pensa também em formas de amenizar os impactos no pós-cheia.
“A gente iniciou em Brasileia a compra do PAA e, imediatamente, conseguiu ajudar os produtores, aqueles que estavam perdendo suas plantações. Foram 104 toneladas de produtos adquiridos nessa alagação. A gente vai ampliar esse programa, mas temos mais programas para priorizar essas áreas atingidas”, garantiu.
Hospitais remanejados
Uma das pastas mais afetadas nessa enchente foi a Secretaria de Saúde (Sesacre). Foi preciso ação rápida e imediata para amenizar os danos, já que ao menos dois hospitais tiveram que ser remanejados devido à enchente: Jordão e Tarauacá. Ao mesmo tempo que o nível das águas aumentava, crescia também a demanda por atendimento. Também era necessário manter o serviço, que é essencial em todas as cidades, missão que, segundo o secretário da pasta, Pedro Pascoal, foi tratada como prioridade.
Os anos à frente do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) garantiram que ele desenvolvesse uma resposta rápida para o desastre. Os atendimentos foram mantidos e cada município recebeu reforço em medicamentos e equipamentos naquele momento. Para o Estado, ele se tornou uma referência no trabalho humanitário nos municípios mais afastados.
“Nosso hospital em Jordão foi acometido em sua totalidade. Tivemos equipamentos e insumos que foram perdidos, mas aquela população não podia ficar desassistida. De pronto, identificamos um prédio da Assistência Social do município, e agradeço o prefeito por ter disponibilizado o espaço, e levamos todos os equipamentos que tinham necessidade”, conta.
O hospital de campanha em Jordão foi montado rapidamente e, assim que tudo estava pronto, registrou o parto de um prematuro, de pouco mais de 1,7 quilo. Na ocasião, ele foi estabilizado em Jordão para em seguida ser encaminhado para a capital.
O decreto de emergência em saúde pública foi outra medida importante, pois, desta forma, o Ministério da Saúde, entendendo que quase 90% do estado estava acometido pela cheia dos rios, enviou kits de emergência que foram distribuídos em todos os municípios.
“Dentro desses kits nós tínhamos medicamentos, antibióticos, antiparasitários, ou seja, o mínimo para atender a emergência naquele local. Esses kits foram disponibilizados não só para o município de Jordão, mas para os outros municípios que também decretaram emergência em saúde pública. Então, é uma resposta rápida do governo para garantir que uma das principais assistências não seja prejudicada”, relatou o gestor.
Com a vazante dos rios, o trabalho da Saúde não diminui, pelo contrário, é preciso estar vigilante no aumento de doenças ligadas a fenômenos como esse.
“Nós tivemos aqui a equipe da Força Nacional do SUS, que já está com plano de ação preparado esperando o acionamento para que disponibilizem equipes, médicos e enfermeiros voltados para emergência e também para prevenção para encaminhar a esses municípios que foram afetados. A equipe do Vigidesastres também está conosco, monitorando a água de consumo dessa população e possíveis situações que possam aparecer pós-enchente, locais que possam desmoronar. Toda essa articulação nas esferas municipal, estadual e federal vem para levar assistência à população. Já temos aprovado, inclusive está creditado no Fundo de Saúde, um recurso emergencial da Secretaria de Vigilância Sanitária e Ambiental, o valor de R$ 2 milhões para execuções de rápidas ações de respostas para que a gente consiga custear ações emergenciais voltadas para alagação e também para surto de dengue, que pode ser agravado por conta desses locais onde teve água empoçada”, destaca Pascoal.
O secretário também destacou a mobilização de equipes nas cidades mais afetadas, como Jordão, uma equipe do Samu foi deslocada para os atendimentos e também os pacientes do Alto Acre, que fazem hemodiálise, foram transportados em vans até a capital para que não parassem com as sessões. Um terceiro turno foi criado para que todos pudessem ser atendidos.
Força-tarefa administrativa
O primeiro momento de grandes desastres é garantir a segurança das pessoas para que os danos humanos sejam menores. Diante da proporção, a Defesa Civil entende que o papel do Estado nessa proteção foi cumprido.
A Secretaria de Assistência Social foi uma pasta importante para o andamento de todas essas ações. Disponibilizou apoio técnico aos municípios e também recurso próprio para algumas ações específicas.
“Aportamos os recursos e aceleramos a questão das burocracias, agilizando o atendimento aos municípios que estavam em situação de emergência. As equipes técnicas acompanharam, se deslocando, indo para os municípios e identificando o grau de comprometimento e vulnerabilidade das famílias atingidas. Disponibilizamos todo o apoio técnico dentro das orientações que se faziam necessárias para a utilização dos benefícios que estavam chegando e ainda continuam sendo enviados”, disse a secretária de Assistência Social, Zilmar Almeida.
Com as famílias retornando para as casas após a cheia, o trabalho tem sido acompanhar essa volta. “Agora é garantir que as famílias voltem em segurança para um ambiente adequado. Registro aqui a força-tarefa administrativa que fizemos para viabilizar os contratos, aquisição de marmitas, sacolão, essas coisas assim emergenciais, principalmente em alguns momentos a questão de proteínas que eram necessárias. A gente precisou realmente apressar a equipe técnica para dar a prioridade dentro das dispensas e corremos para que o fornecimento alcançasse as famílias de imediato”, pontua.
Cuidar das pessoas
O que o governo fez durante esse período extremamente delicado foi cuidar das pessoas. Era preciso agir rápido e com humanidade. Para isso, a campanha Juntos Pelo Acre passou a arrecadar donativos para essas pessoas atingidas. O diretor de Administração e Finanças, Marcos Clay Silva, explica como foi a união de todas as secretarias. Para além da gestão, os servidores doaram não apenas o voluntariado, mas também itens que somaram nessa entrega.
“O nosso papel principal era recepcionar essas doações que partiram de vários lugares e fazer a triagem de todas essas doações, o que era água, o que era alimento, o que era de limpeza. As pessoas que traziam esses donativos eram cadastradas e preenchiam uma ficha com o nome, CPF e endereço. Tínhamos uma central bastante grande para receber essas doações. As roupas, principalmente, tinham que ser separadas porque eram infantil, adulto, masculino, feminino, e depois empacotadas”, destacou.
A maioria dessas peças, mais de 2 mil, foi levada para os indígenas atingidos. Também foram destinadas, somente para terras indígenas, mais de 38,7 toneladas. Com a volta das pessoas para as casas os pontos de arrecadação foram encerrados, mas quem ainda quiser ajudar na campanha pode transferir valores para o PIX da campanha, que já soma mais de R$ 48 mil.
“E a gente aproveita a oportunidade para agradecer as pessoas, os voluntários; pessoas civis e jurídicas que vieram, todos com o intuito de ajudar. Cada pessoa que veio aqui teve um papel crucial. Tudo isso foi bem-vindo, foi bem recebido e, com certeza, fez diferença na vida de muitas pessoas”, destacou.
Para quem esteve à frente, pelo segundo ano, na entrega desses donativos, o sentimento é de dever cumprido, mas ainda com a sensação de que podia fazer mais, mesmo que tenha se doado por inteiro.
É o caso de Camila Lima, diretora do Instituto de Proteção e Defesa do Consumidor do Acre (Procon-AC), que ficou no ponto de distribuição montado no Casarão.
“A gente sabe que as pessoas precisam, a fome não espera, mas foi muito gratificante ver o olhar de cada uma das pessoas que recebiam. O ponto foi encerrado e, ao mesmo tempo que fizemos muito, a gente sempre fica com a sensação de que poderia ter feito mais, porque sabemos que teve gente que perdeu tudo. Fiquei feliz por ter ajudado um pouquinho e gostaria de ter ajudado ainda mais, e a minha equipe e eu, a minha presidente, estamos sempre prontas para levar um pouquinho de conforto para as pessoas que precisam”, frisou.