Participantes de seminário sobre o Sistema Nacional de Educação, promovido pela Comissão de Educação da Câmara nesta quinta-feira (11), afirmaram que a implantação do sistema, com a cooperação entre União, estados e municípios, é o caminho para garantir a universalização do acesso ao ensino de qualidade, respeitando a diversidade do país, mas procurando superar as dificuldades provocadas pelas desigualdades regionais.
O projeto que institui o Sistema Nacional de Educação (PLP 235/19) prevê a integração das políticas públicas, desde a fase de planejamento até a de avaliação, por parte de estados e municípios, sob a coordenação da União. Leis específicas criarão os sistemas estaduais e municipais.
Logo na abertura do seminário, a deputada Socorro Neri (PP-AC), uma das parlamentares que pediram a realização do debate, fez um histórico da discussão sobre o Sistema Nacional de Educação, que vem desde 1996, quando entrou em vigor a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
Ela relacionou as propostas legislativas e os resultados de fóruns da sociedade civil. Todas as proposições que estão na Câmara estão sendo examinadas juntamente com um projeto do Senado. As propostas estão em regime de urgência, o que significa que podem ser votadas diretamente pelo Plenário da Câmara. Mas ainda é preciso ter um relator para o texto.
“Aqui nós teremos possibilidade de fazer contribuições em conjunto para que o relator designado possa então apresentar um substitutivo que contemple as necessidades das mudanças ocorridas na educação, tanto da educação básica quanto da educação superior”, disse a deputada.
Entre os princípios do sistema estão a educação como direito social; a igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola; a equidade na distribuição de recursos; e a gestão democrática – tudo em consonância com planos decenais de educação. O próximo Plano Nacional de Educação vai vigorar a partir de 2024.
Os objetivos do Sistema Nacional de Educação incluem a erradicação do analfabetismo e a garantia de um padrão mínimo de qualidade, tratando de itens como infraestrutura e formação de professores.
Autor da proposta em discussão na Câmara, o senador Flavio Arns (PSB-PR) ressaltou que qualquer tema que se pense na área de educação – como a violência nas escolas, por exemplo – pressupõe uma pactuação entre os governos federal, estaduais e municipais.
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Transporte escolar
Representante do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Aberson de Souza pediu atenção especial para as particularidades do sistema, como a educação das comunidades tradicionais e da população rural, dando um exemplo de como a falta de articulação pode resultar em problemas, como o que está afetando o transporte escolar.
“Nós temos um novo ensino médio com ampliação de carga horária, com mil horas, e temos um ensino fundamental que tem a sua carga horária menor. E com isso, em alguns estados e em alguns municípios, nós estamos tendo um conflito na logística de transportes”, disse. Souza lembrou que a logística de transporte muitas vezes é realizada pelo município, e em outros segmentos é realizada pelo estado, e que isso traz dificuldades, principalmente para o ensino na área rural.
O representante do Ministério da Educação, Armando Simões, destacou a forte desigualdade em termos de recursos, acesso e resultados, mas alertou que é preciso criar um grau de unidade na diversidade.
“Quando a gente fala ‘a criação da unidade na diversidade’, significa reconhecer a diversidade, mas tentarmos criar bases para que a diversidade não se converta em desigualdades ou que as desigualdades não se derivem dessa diversidade. A diversidade é benvinda, a diversidade é rica, é a riqueza do nosso país, mas ela precisa existir dentro de um marco de oferta educacional que não permita que essa diversidade se converta em desigualdades de acesso, de aprendizagem”, disse.
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Autonomia dos entes federativos
Para Gustavo Balduíno, secretário-executivo da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a lei que cria o Sistema Nacional de Educação é a mais importante depois da que estabeleceu a LDB, mas ele salienta que há um entrave político para a sua implementação.
“É impossível fazer um sistema – ou muito difícil – que junte entes autônomos, cuja condição necessária desse sistema é cada lado abrir mão de um pouco da sua autonomia. Esse é o debate político central. Por que os estados, os municípios e a União vão abrir mão da sua autonomia para que haja uma concertação chamada Sistema Nacional de Educação? Essa é a grande construção política que deve ser feita nessa comissão”, disse.
Segundo Balduíno, é por essa razão que, até hoje, não se conseguiu construir um sistema nacional: porque ninguém acha oportuno abrir mão da sua autonomia no nosso pacto federativo.
Durante o seminário na Comissão de Educação, o representante da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Eugênio Cunha, pediu que as instituições privadas sejam incluídas nas discussões e tenham participação nos conselhos de educação. Ricardo Tonassi, do Fórum Nacional de Conselhos Estaduais e Distrital de Educação (Foncede), sugeriu uma unificação do papel dos conselhos, com a garantia de autonomia de atuação.